SEM DESCULPAS

Terto
3 min readJan 10, 2023

O plano para os ataques de ontem nasceram simbolicamente em dois momentos: quando o governo Dilma cria a comissão da verdade (2011) e sanciona a PEC das domésticas (2015). O golpismo brasileiro é de ódio aos pretos, à população LGBTQIA + , às mulheres e aos pobres. Esse ódio, que promove a eliminação do outro seja por meio da indigência, fome, doença e execução direta, tem lugar cativo na grande imprensa que foi conivente tanto com a criminalização do PT e da esquerda, quanto atos que já tinham a mesma tônica do que aconteceu em Brasília, promovidos por grupos como o MBL e que não foram nomeados como deveriam. Esse mesmo MBL que entrou na justiça para pedir a criminalização do MTST, como se invadir propriedade abandonada para fazer valer sua função social e não a especulação imobiliária, fosse a mesma coisa que a depredação. O candidato que disse “vamos metralhar a petralhada” foi eleito e validado por editoriais como o já clássico “Uma Escolha Difícil” do Estadão. Inventaram o fascismo técnico, aceitaram prisões arbitrárias, juiz imparcial, tudo para que o projeto que considera dar dignidade aos pobres e historicamente invisibilizados. Inventaram o humor do mercado, sendo que mercado e a grande imprensa são indissociáveis, esse espectro que não se abala com um terço da população brasileira com algum tipo de insegurança alimentar, mas deixe alguém usar as palavras distribuição e renda na mesma frase e veja o que acontece. Não só o governo do DF deve ser responsabilizado, não só bolsonaro. Todos que deram guarida a esse projeto e agora fazem declarações de proteção jurídica devem. Nenhum deles foi pego de surpresa pelo bolsonaro e o bolsonarismo. Nenhum deles foi poupado de saber os planos e os objetivos desse grupo, a imensa maioria apoiou e promoveu ou por total identificação ou por causa que do outro lado havia “aquela gente” a quem tentam resumir como “índios, pretos e estropiados” em suas colunas. A quem tolerou bolsonaro porque no pacote vinha paulo guedes esse que deveria garantir que “índios, pretos e estropiados” não saiam por aí fazendo “uma festa danada”. É tão patético o uso da expressão “bolsonaristas radicais”, quanto são os comentaristas hoje pipocados por aí dizendo que os “bolsonaristas que defendem a democracia” repudiaram o ato. Compraram os ingredientes, fizeram a massa, colocaram no forno e agora repudiam o bolo? Agora que a gente não sabe quando a bomba que quase explodiu no aeroporto de Brasília vai passar despercebida e detonar em algum lugar público? Antes de Brasília foi a censura de exposições, o molotov no Porta dos Fundos, mas antes de todas as depredações foi Moa do Katendê, foi Marielle Franco e todos os mortos políticos do país. Então antes disso foi Vigário Geral, Carandiru. E sempre foram os pretos e os povos indígenas. Destruição é tudo o que esses golpistas tem a oferecer, mas embora centralizados em uma figura, sua formação se deu com o apoio daqueles que comungam do mesmo ódio e do mesmo desprezo e que estarão por aí, depois que seja o que acontece com bolsonaro e o chamado bolsonarismo acontecer. Lula teve um gesto que considero extremamente importante e simbólico ontem ao não aceitar o pedido de desculpas de Ibaneis. Não devemos aceitar as desculpas, eles inflamaram à violência contra minorias, ridicularizaram a oposição a este projeto por anos, acharam tudo bem uma turma que votou em um presidente porque senão “seus filhos seriam gays”, o MTST iria “invadir propriedade privada”, aceitaram o cara que disse que a ditadura matou pouco e que dedicou um voto, ao vivo, num parlamento, a um dos maiores torturadores da história do país, tudo isso para que o outro projeto não voltasse, aquele que representa alguma noção do povo brasileiro. Nunca foi sobre ser contra a corrupção sempre foi sobre ódio e o ódio sempre arruma seu jeito de escapar. Agora esse grupo chamado de “radicais” pode sofrer punições e até ser desmembrado, mas sempre teremos que lidar com os solitários prontos para invadir uma festa. Enquanto isso, pelo que vimos de oposição aos primeiros dias do governo Lula, aqueles de sempre já preparam o próximo bolo e a próxima pia para lavar as mãos e os futuros pedidos de desculpa. Não devemos desculpar.

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Terto

Autor dos livros "Marmitas Frias" (crônicas, ed. Lamparina Luminosa, 2017), e de "Os Dias Antes de Nenhum" (contos, ed. Patuá, 2019).